O elevador abriu no sexto, e eu não consegui me mexer, fiquei estática olhando o vão da porta... olhei para ele desesperada, que me olhou como se eu fosse louca. Apertei o sétimo: ele me olhou confuso, e sem se mexer, ainda assim eu pensei: “é agora que ele vai me estrangular!”. O elevador parou, desci sem olhar para trás. Quando o elevador se foi, apertei o botãozinho, chamando-o novamente. Meu corpo tremia, mas eu me sentia esperta: “me salvei. Ele vai matar o cão, não eu... com aquela cara de estuprador...” . Eu estava em pânico, mas viva. Em pânico todo mundo fica, o que importa é sair ilesa e eu estava ilesa, quase borrada, é verdade, mas ilesa.
O elevador chegou. Entrei cabis-baixa ainda me recuperando da tremedeira. Vi a porta se fechar e ao levantar a cabeça: me deparei com o mesmo moço! Minha bexiga gritou, lembrei das séries policiais na TV à cabo, pensei nos filhos, nos amigos e até nos inimigos, e fechei os olhos para não ver meu fim. O elevador parou. Eu não sentia dor. Mexi a mão, ainda estava lá; toquei a perna, ainda estava lá; passei a mão na face e senti o sangue escorrer , “não é adocidado igual dizem nos filmes”, abri os olhos devagar e vi que não era sangue, era o meu suor.
Olhei para o painel, que indicava o térreo, e senti as cãibras percorrerem o corpo todo... O moço desceu do elevador olhando para mim, lançando chispas de medo e tudo o que consegui foi forçar um sorriso amarelo para os que pacientemente me esperavam sair do elevador para dar lugar a eles, que, em segundos, sentiriam o que eu havia acabado de sentir mentalmente, afinal tudo não passou do delírio de uma das milhões de loucas que sentem o mesmo medo, cada vez que se defrontam com um estranho em um elevador.
É a síndrome da vida moderna, que acha pouco o número de loucos que já fez e se empenha em fabricar mais. Bem vindo ao clube você também, pois ainda que diga que não, sente sim, o que acabei de passar no elevador.