Li a carta de despedida
de Gabriel Garcia Márquez.
Li a dor da impotência,
vi a dor da quase ausência.
Senti a falta dos anos dourados.
Ouvi o solfejo desesperado.
Não me escuso de assumir
o quanto a sua dor me tocou.
Não importa a sua fama,
nem que fosse alguém da lama,
meu pesar seria igual.
Pude ver as mágoas,
pude ver o seu não ir;
pude ver o querer ficar.
Vi até o que já foi,
pude ver as reservas
de construções não acabadas,
sei também das baladas
que não poderão ser dançadas.
Vi um choro seco como o deserto;
vi um ente apaixonado;
vi arrependimentos da labuta;
vi desejos não alcançados.
Quanto seu pesar da ida me tocou.
Quisera eu poder transcender,
ter consigo um momento,
lhe acalentar em um intenso silêncio
que frase nenhuma pode alcançar.
Abrandar o seu medo,
encolher sua dor,
trazer-lhe numa bandeja
um minutinho a mais,
meu até, eu lhe daria
e nada cobraria
por uma ilusão de paz.
Peço que o pai lhe alcance
e sem pressa lhe console.
À moda da viola,
ou com um tango apaixonado,
diferença não fará.
Desde que não lhe mostre a pistola,
desde que não lhe dê a esmola,
pois filho nenhum rirá.
Basta que o pai plasme
um lindo jardim de violetas
com cheiro de laranjeiras,
com rosas muito brejeiras
e hortênsias a lhe cercar.
Que lhe mostre a cor lilás
como um sinal da paz
e lhe aperte em seu seio.
A mim só resta a prece
de quem não o conhece,
mas os medos são iguais.
Ide aos céus, irmão
e verás que lá também tem paz
e quem sabe uma pena
com restinho no tinteiro.
Quem sabe um candeeiro
para te continuar,
para nos iluminar
com as letras universais
lá no jardim da paz.
Rezarei em verso e prosa,
arriscarei algumas rimas,
rimas pobres, rimas ricas,
mas a sua regalia
não terá avaria,
sairá do coração.
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