terça-feira, novembro 04, 2008

DUNAS

Subi no pau-de-arara com cadeiras macias ao contrário das de outrora. Prendi a respiração, desejei minha cama pensando nos ramais a percorrer, me perdoe se sou urbana. Que blasfêmia, que heresia! Pois quase perdi a primazia da natureza universal. Tanto cajú a dançar sobre minha cabeça a cada metro vencido e percorrido no arrochado caminho ermo, as carnaúbas absolutas lutando contra o vento onipotente, a plantação nativa tão soberana, o velho carro tão resistente.

Os galhos secos a me fustigar, aquelas dunas a me embebedar, qual o que? Eu sou apenas uma mulher, que como as dunas tem um par de peitos, mas o meu despeito é que meu defeito é não poder mudar. Mudar de lugar, mudar de curva, me insinuar, deixar o vento me navegar. Assim são as dunas lá dos lençois no Maranhão, que se transportam, formam curvas, corpo de mulher insinuante, mas tem o condão para no segundo olhar já terem mudado de lugar.

Coisa imperiosa, diante de teus olhos o vento desfaz os desenhos curvilíneos da areia e muda de norte para sul, te deixando nu, só a alma e a pureza das brancas dunas, te pondo de joelhos, curvado e enebriado berrando que Deus existe e que o cão nem passou por lá.

Falo da paisagem adornada pelas ovelhas a pastar no lagoa seca que logo haverá de alagar, falo das palmeiras trepidantes com o vento a lhe dominar, falo da imensidão que teus olhos não hão de alcançar, falo do céu tão azul que só Deus ousou desenhar, falo de gente sem dente que o dinheiro não deu para tratar, falo da montanha de neve que só o vento vai desmanchar, falo da minha terra que tem dunas a doidar. Onde todos são apaixonados pelas Dunas de lá.

Terra pobre, que recebe gente rica que fica mais rica, quando decide por lá se arranchar, levando seu quinhão para longe, outra nação, mudando de opinião de que o mundo vai acabar. Já os de lá, que outros mares nunca viram, se rifam por quilos, que de grão só um dia de riso lhe dá. Mas as dunas não ligam, não se envolvem, não se apegam, vem e vão, dançam seu baile, que nem em braile irá perdurar. E eu respiro cansada, ou mesmo extasiada de tentar analisar. Que engodo cruel! Nem mesmo um papel poderá relatar a beleza dos campos, da relva e dos prados que as Dunas vão encantar.

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